DISTANCIAMENTO SOCIAL E APROXIMAÇÃO SUBJETIVA

 

Apresentação CLAC Novos Tempos em  03/07/2020 

 por Beth Karam


DISTANCIAMENTO SOCIAL E APROXIMAÇÃO SUBJETIVA – Resumo da apresentação de Miquel Bassols- Escola Lacaniana de Psicanálise, Seção Clínica de Barcelona, Ex presidente da ELP. Seminário on line organizado pela Antena Clínica de Valência/Orientação Lacaniana [1]

Objetivo: abordar questões que permitam manter abertas as perguntas sobre nossa atualidade, no caso, o acontecimento inédito da pandemia e suas consequências na nossa vida e em nossos gestos cotidianos.

Segundo Bassols:“Vivemos nestes dias de confinamento uma experiência inédita para a Humanidade, que deve responder como coletivo, a um perigo que pôs em cheque sua própria forma de vida. Interrogaremos a expressão com que se nomeia esta resposta “distanciamento social” para opor-lhe a “aproximação subjetiva” a partir da psicanálise.”

No início de sua fala Bassols aborda algumas questões interessantes para a continuidade de sua exposição.

Aborda inicialmente o “falar às cegas” para um auditório de 700 pessoas que não vê e como face a isso cada um pode sentir-se observado, por este “observador invisível”.  O que o remete ao panóptico de Jeremy Bentham[2], que no sec. XVIII orientou a arquitetura das prisões[3], e que Foucault estudou como o modelo da sociedade disciplinada e autoritária. Este modelo segundo Bassols garante: “...um funcionamento automático do poder, construído sob o princípio da omnisciência invisível”.(...) “è o princípio que estamos vendo esses dias (...) em diversos países. Na China em 1º lugar para abrir uma vigilância do Estado, sobre cada um dos cidadãos, sem duvida para controlar e prevenir o contágio do Corona vírus. Sabemos já, sem duvida, que o mesmo dispositivo seguirá sendo utilizado(...) mais além da pandemia para fins de um controle social dos cidadãos , sempre em nome do seu bem.”

Esse princípio do panóptico é também, segundo Bassols, o princípio da sociedade do espetáculo onde cada um pode ser um omni voyeur invisível na sua intimidade, ver tudo a partir da intimidade de sua casa e pode também dar a ver o mais íntimo de si mesmo a todo mundo. (...) como um exibicionista cego. ”Esses são os princípios da estrutura que governa nesses dias o que passou a se chamar distância social.”

Por outra parte há outra distancia em jogo, a partir do discurso da psicanálise, na perspectiva do sujeito da palavra e da linguagem: a distancia de cada sujeito consigo mesmo, com seu próprio inconsciente, próximo e distante ao mesmo tempo. “O ICS nos impõe uma distancia subjetiva com o mais íntimo de nós mesmos (...) quem é o roteirista do sonho que tive esta noite?”- Se pergunta Bassols, e continua: “Vemos então que noções de distancia e proximidade se fazem muito relativas quando se trata do sujeito do Inconsciente do qual trata a psicanálise. O mais distante é o mais próximo e familiar, diz respeito à extimidade, neologismo de Lacan , sublinhado por Miller.

Bassols cita dois fragmentos paradigmáticos de sonhos de analisantes: “(...) é como se você despertasse de um pesadelo e te dás conta que o pesadelo continua na realidade e continuas sentindo a mesma angustia que sentias no pesadelo.”; e “Tenho uma sensação estranha de irrealidade, de estar vivendo num filme em versão original, mas sem poder ler os subtítulos da tradução, (...) ou seja, sem conhecer o texto que permite marcar essa realidade irreal que é a trama e o roteiro...”

Freud Formulou que dormimos para sonhar e Lacan que despertamos para continuar sonhando[4].  Segundo Laurent, a partir daí “Lacan subverteu a evidência do limite entre a vigília e o sono a fim de nos despertar, nós seus leitores, para outra coisa.” [5] Vemos nestes fragmentos trazidos por Bassols que o despertar não permite a continuação do sonho diante da invasão do real do vírus, pois não permite tratar o gozo do corpo ameaçado pelo Corona, aponta assim aos novos enunciados de Lacan sobre sonho e despertar, articulados ao gozo e formulados após o Seminário 20. Conforme Laurent, “(...) é despertar tudo o que é ultrapassagem, alteração, dano à homeostase do princípio do prazer que garante a vida. Nesse sentido, a perturbação absoluta da vida é a morte. O desarranjo absoluto da vida, nesse sentido, é a morte. O despertar absoluto é a morte. Enquanto isso, os pequenos despertares, parciais, despertam para o fato de que eles são ultrapassagens da homeostase.”[6]

 Bassols faz 3 Constatações:

1-     Nada voltará a ser como antes. O que chamamos  de modo contraditório e cínico "a“ nova normalidade”  talvez não seja a saída do túnel desta pandemia, inclusive porque já há outras anunciadas. Então “a suposta saída ao exterior seria então uma entrada ao mais interior do túnel em que nos encontramos” . Então convida: “Benvindos à extimidade permanente! È melhor sabe-lo e não nos deixar hipnotizar demais pelo canto das sereias em nome do progresso”.

2-     “Pela primeira vez é o conjunto da Humanidade (...) que se reconhece a si mesma como se fosse um só sujeito ante um fato real, ante um perigo do qual não sabe como defender-se senão em escala global. (...) Este fato real não é só o Corona vírus , mas tudo o que implica a epidemia como crise social, política, que coloca em questão nossas maneiras de viver.” Bassols cita  então Gustavo Dessal:  “a infecção é biológica, a pandemia é política”.(...) A pandemia é um fato de discurso que se transmite em escala global.” Lacan afirmou numa conferencia nos USA “...o que chamamos história é a história das epidemias.”

3-     Podemos dizer também, agora, o capitalismo também é uma epidemia, e talvez seja a que melhor se propaga por prometer um gozo satisfatório ao sujeito contemporâneo.”. O capitalismo promete uma satisfação sem perda, pois se nutre da promessa desse gozo impossível, “...mas paradoxalmente vemos agora pode levar a uma perda geral e irreversível”.

Então agora diz, nos encontramos num momento inédito para mudar algumas coisas, não muitas, mas importantes; a humanidade terá que fazer um cálculo político coletivo para seguir adiante, “com estratégias e táticas de uma maior solidariedade entre sujeitos e povos muito distantes.” Mas, segundo Bassols, temos que nos perguntar se a humanidade mesma não é uma epidemia, diante da lei da natureza.

Há aí uma possibilidade de escolha má e outra boa, formula Bassols. A má seria a entrada noutro túnel de maior controle social a serviço de um crescente autoritarismo em nome da segurança, incrementado pela aliança do capitalismo com as políticas neo liberais. Só não seria assim se permitirmos aquilo que La Boétie denominou Servidão  Voluntária.[7] Antes de entrarmos no túnel do Corona vírus, já sentíamos a assunção geral da perda de liberdades e direitos em escala local e internacional. Uma vinheta de humor, do cartunista El Roto ilustra bem com uma cena de uma porta interditada por uma barreira vigiada onde esta colocado um cartaz: “Por razões de segurança, não há segurança”.

A boa notícia é que podemos escolher, o sujeito da escolha, talvez seja melhor não sair logo do túnel e “...ficar ali um pouco mais  inventando alguma coisa antes de sair”. É o que indicarei mais adiante com a expressão ”aproximação subjetiva” (acercamiento subjetivo), (...) para opô-la a distancia social.” Significante mestre da época que causa uma epidemia de sentido.

Distanciamento social é um significante mestre que nos impõem e que nos obriga agora a uma distância. Mas de que distância se trata? “(...) a linguagem do autoritarismo mais sutil, aquele que se aninha na própria linguagem, como discurso do mestre,(...) fez passar ao uso comum essa expressão que vem de outros campos para designar o que é a distancia física (...) necessária para responder ao temor ao contágio, ao medo da morte, ao contágio da enfermidade da morte...”.

Bassols fala dessa expressão como um “sutil eufemismo”, “um invisível autoritarismo da linguagem”, que colou tanto à direita como à esquerda, sendo que poucas vozes  escutaram aí algo que não soava bem, que por aí penetrava algo de um discurso autoritário.

E adverte, citando Freud: “...se começa cedendo nas palavras e termina cedendo nos fatos”. É muito estranho chamar de distancia social, o que é uma distancia física entre os corpos”. Há aí “...uma ideologia do controle social em nome  da segurança do não contágio. Uma ideologia que se funda na redução da palavra e do gozo a seu corpo, ou melhor a seu organismo, a um objeto orgânico”.

Bassols escreveu num tuiter; ”Distanciamento social é um eufemismo para não falar da insuportável proximidade dos corpos, especialmente quando o corpo do outro pode contagiar-me a enfermidade da morte. Por outro lado aproximação subjetiva é a expressão que oponho à partir do discurso da psicanálise, é a posição analítica para escutar e sustentar a angustia de cada um diante da morte e também seu irredutível desejo de viver.”

O eufemismo distancia social, segundo Bassols, pode ser tão insidioso no registro simbólico , como é o próprio Corona vírus no registro real.  O habito social da liberdade de reunião, de agrupamento, de relação social fica impedido pelo distanciamento social.

“O chamado distanciamento social pode impor um distanciamento subjetivo, na medida em que me encontro reduzido,  eu mesmo como sujeito, a  um organismo., na medida em que  meu corpo, o corpo que tenho,se vê reduzido a um organismo físico que pode contagiar-se de um vírus por contato com outro organismo físico.”

Temos então aí os sujeitos despojados de seu registro simbólico, despossuídos do direito ao desejo de laço social e reduzidos a um corpo físico controlado socialmente.

Esta biopolítica dos corpos impõe, sem impor necessariamente ao mesmo tempo , um vínculo  como outro sujeito que me leva a desconfiar automaticamente dele, como apontava Ingrid Guardiola, professora de Humanas e pesquisadora  de meios áudio visuais, autora de  El ojo y La navaja, Ed Arcadia. Este é o princípio da lógica da segregação do outro, do outro diferente de mim, do diferente da imagem que tenho de mim mesmo”.

“ Este distanciamento é em primeiro lugar um distanciamento de meu próprio ser, de minha própria intimidade, aquilo que definimos como extimidade. Um exemplo, que constitui  fenômeno clínico do sujeito contemporâneo, que  deve lido à luz da noção de extimidade: a Síndrome da Cabaña, da casa ou do refúgio, que é resposta ao confinamento é à imposição da distância social e que se detectou em pessoas confinadas em sequestros, ou prisões. Ao terminar o confinamento tem sintoma de angústia, tristeza, depressão e insegurança diante da ideia de sair do confinamento. O  sujeito passa então a um confinamento voluntário, segundo a lógica da “Servidão Voluntária”, de La Boètie.

 “Não se trata tanto de isolar-se para defender-se dos outros , mas para defender-se de si mesmo.(...) Se trata na realidade, afirma Bassols, de fechar-se em si mesmo, para fechar-se fora do mais íntimo de si mesmo(...) Isolar-se para distanciar-se do êxtimo. O bárbaro parece que começa além da porta, pelo pórtico da casa.”

Segundo Bassols, “...há que confinar-se, mas não demasiado. O discurso do capitalismo necessita que tudo continue funcionando a qualquer preço, incluindo o preço incontável de vidas humanas. Quais são já e quais serão os efeitos deste paradoxo, já que continuamos  vivendo nas políticas orientadas por esse eufemismo da distância social?

As mais impactantes medidas para o não contágio pelo novo Corona vírus: questões sobre direitos civis e de expressão, onde a própria máscara  remete à boca tapada, calada; por exemplo, as creches na França com pequenos espaços  delimitados com spray para serem ocupados por cada menino ou menina, que não deve sair de sua parcela de espaço; mesmo procedimento usado nos USA para manter afastados os sem teto nas superfícies dos  centros comerciais em que são abrigados.

“Isso é mais do que uma analogia, é uma imagem muito potente da assunção de uma política de restrição radical dos direitos de livre movimento em nome de uma segurança que todos reclamamos por outra parte às autoridades”. Assunção progressiva, sutil e insidiosa da restrição dos direitos de liberdade que evoca o mais clássico autoritarismo.

A partir da psicanálise  temos que levar em conta ao menos 3 coisas:

1-Não é seguro que o sujeito queira sempre seu próprio bem. O sujeito pode estar disposto a renunciar a este bem em nome da segurança, ou de um gozo prometido como um bem estar superior a seu próprio bem. Ou seja, não se demanda necessariamente o que se deseja.

2-Não é tampouco seguro que o sujeito seja tão livre em sua palavra como queria o Iluminismo, que reclamou os direitos de expressão e liberdade da palavra. Os psicanalistas(...) sabemos como os sujeitos se detém muitas vezes ante a verdade que pode aparecer (...) essa liberdade de expressão não é tão simples de sustentar.

3-No nó difícil entre a exigência de segurança e a defesa das liberdades fundamentais, o recurso à lei jurídica não resolverá nunca o conflito. O jurídico nunca poderá regular o mais importante que é a decisão ética de cada sujeito em seu ato singular.

Aqui devemos fazer valer o discurso da psicanálise ante a pandemia de sentido , que foi induzida por este significante mestre distancia social, com todos os efeitos de segregação que o acompanham.”

“A partir da posição analítica devemos colocar-nos a estratégia de uma aproximação subjetiva um com outro , è a expressão que quero sublinhar, de uma aproximação com o sujeito da palavra e da linguagem, ao sujeito do inconsciente, para escutar e sustentar a angustia de cada um, para sustentar o  proveitoso  desejo de viver.”

“Como produzir esta aproximação subjetiva, nesta época de pandemia e segregação que vivemos? Minha experiência subjetiva (...) durante este período de confinamento é que é a experiência de uma impossibilidade (...) de um real como impossível(...) de sustentar a presença do analista tal como a entendemos na Orientação Lacaniana. (...) Me colocaram uma pergunta em distintos lugares e de diversas maneiras (...): é  possível seguir a experiência analítica pela internet, sem a presença  real dos corpos do analista e analisante, valendo-nos unicamente da imagem e da voz, transmitidas pela internet e separadas do corpo real?

“Minha primeira resposta é não. Há uma necessidade  na experiência analítica da presença real dos corpos. (...) Ao mesmo tempo há uma outra pergunta aparentemente semelhante: é possível aplicar a psicanálise à distancia? Minha resposta é sim. E é pela aproximação subjetiva que só a palavra torna possível, ainda que haja um limite : a distancia do corpo falante, do corpo do gozo que não é inevitavelmente a imagem, não desaparece, fica fora do jogo, para dizê-lo em termos futebolísticos.

“A experiência analítica é de fato uma experiência de estranhamento do espaço  mais íntimo e familiar, é a possibilidade de dar uma volta pelo outro lado, pelo lado êxtimo do espaço da minha familiaridade, para ler o que está escrito, para ler o texto do meu inconsciente e parece que aí é necessário esse espaço de intimidade que produz o dispositivo analítico na presença dos corpos.

“Aí a relação do inconsciente com o gozo não pode vir em termos de distancia social nem física, implica uma métrica singular para cada sujeito. Por exemplo, um analisante me dizia um dia destes que se sentia incapaz de me explicar por telefone o sonho que tinha tido. Não porque não tivesse suficiente intimidade aí onde estava em sua casa, coisa que pode ocorrer dificultando o falar sem limites ao analista. Não. A razão é que sentia falta do espaço íntimo da sessão analítica. O espaço do tempo próprio do dispositivo analítico que requer a presença real dos corpos do analista e do analisante.

 “Outro analisante me dizia, no entanto, que podia seguir suas sessões falando por telefone  deitado no sofá de sua casa, como se estivesse no divã da consulta.  A coisa vai pois, um a um, caso por caso, sem nenhum standard que possamos defender como protocolo profissional. Contudo devemos sublinhar que a experiência da psicanálise pura, que Lacan postula, não pode em algum momento, abrir mão desta presença real dos corpos na realidade do dispositivo analítico. (...) a presença do corpo falante tem consequências fundamentais  no momento da experiência  analítica na sessão. Por exemplo: às vezes saber com que sujeitos poder dar a mão ao concluir a sessão é o mais importante do que sucede na sessão (...) Eu não aprendi a dar a mão por internet e não sei se agora poderei dar a mão tão facilmente como antes. Há aí um real dos corpos que vai ser tocado.

“Digamos então, para retomar uma diferença que Lacan expôs, (...) que a psicanálise pura requer esta  presença real dos corpos e a realidade e do dispositivo analítico e por outro lado (...) a chamada psicanálise aplicada (...) inventou, inventa e inventará modos diferentes de aplicar o que a psicanálise nos ensina , e isso nas condições mais variadas, nas mais limitadas  e estranhas...Assim  que não há dispositivo analítico standard , há princípios irrenunciáveis  por um lado, entre a  aproximação subjetiva através da palavra, e isso requer em algum momento a presença do corpo falante.

“Para concluir, (...)vamos  necessitar cada vez mais de um alto grau de aproximação social e subjetiva para fazer frente aos efeitos devastadores que essa pandemia tem e terá em diversos registros , especialmente no que diz respeito às camadas mais vulneráveis da sociedade. Estamos todavia no olho do furacão, sem poder ver os efeitos que terá sua passagem e o que ocorrerá depois.

“Nesta tarefa será finalmente a palavra, o discurso, o relato como se diz agora, o novo significante mestre que se usa agora para falar do discurso, que permitirá falar dos furos , das rupturas que se produzem e se  fazem presentes no tecido de nossa experiência.

“Não há aí boa distancia possível. Com o inconsciente não há boa distancia possível, a única, a via digna, é a aproximação subjetiva através da palavra, a esta zona de mistério, onde está escrito este texto indecifrado que é o inconsciente, e ao qual só podemos aceder através da palavra, que atravessa distintas métricas, como estamos  comprovando agora pela internet.

“Terminarei então com uma espécie de elogio da palavra nestes tempos de pandemia, um elogio que tomo de outro poeta catalão. Leio primeiro em catalão para transmitir-lhes o gosto o sabor do som da língua,  e depois traduzirei em castelhano.

“ A maneira mais selvagem, selvática e salvadora

de  mover o corpo

a maneira sutil e muscular

mais perto da matéria feita fonte

porque fonte é

o movimento do corpo mais insultante de todos

e, se se quer o mais amoroso

é a palavra e falar.”

“Termino, pois com essa palavra e com tudo  que é a palavra de gozo e da presença dos corpos falantes. Obrigada por escutarem-me.”



[1] Bassols, Miquel. “Distanciamienton social y acercamiento subjetivo”.YouTube, WWW.youtube.com>watch.

 

[2] Bentham, Jeremy (1748-1832) filosofo utilitarista inglês, que busca transformar a ética numa ciência positiva da conduta humana, substituindo a consideração dos fins, pelo que move o sujeito a agir, onde reconhece o prazer como móvel fundamental, e onde considera que  a utilidade particular coincide com a utilidade pública. O prazer como móvel do ser humano é o reconhecimento do particular e do intersubjetivo. (Abbagnano,N.-Dicionário de Filosofia, Ed Mestre Jou, S Paulo, 1970.

 OBS. J.A. Miller aborda  Bentham no capitulo VI, O publico e o privado,  de seu Seminário “El otro que no existe y sus comités de ética”. A respeito da teoria das ficções de Bentham que, segundo Miller sustenta “...que não só estão em jogo as entidades reais, mas também é preciso destacar as entidades fictícias”. P.132.

[3] E também da reforma urbana que Haussman implementou em Paris, com os “ rond points’, rotundas para onde convergem  várias ruas e avenidas e que também propiciam e facilitam o controle social em caso de manifestações, como aconteceu em maio de 68.

[4] Lacan, J.  O Seminário:Livro 20: mais, ainda, Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed , 1985, p.76.

[5] Laurent,E. XII Congresso da AMP. Textos de orientação. O despertar do sonho ou o esp d’um desp. Janeiro de 2019.

 

[6] Idem

[7] La Boétie,Étienne de. Discurso sobre a Servidão Voluntária. Edipro, S. Paulo, 1917.  Obra do  sec. XVI, escrita pelo jovem humanista frances, (1530-1563) em 1549. O inédito na obra de La Boétie foi ter trabalhado a questão do quanto há de voluntário na submissão: por costume, por encantamento pela religião, por busca de poder e riqueza, para ocupar o lugar do tirano. O sujeito se submeteria movido pelo desejo de estar próximo ao rei na esperança de obter um poder cada vez maior.  O  fundamental é que La Boétie destaca que a coerção não é  o essencial na submissão e coloca no sujeito a responsabilidade pelo seu próprio jugo, ao não se dar conta que se trata de uma escolha.