Angela Batista - Psicanalista |
Apresentado na Conversação CLAC-Rio
"Crianças Violentas – Pais traumáticos"
Vivemos um momento de evidente fragilidade da
ordem simbólica e desordem na regulação da lei e suas consequências na família
e no laço social. A questão que vou
comentar será sobre a intervenção do analista, suas manobras e aposta em uma
orientação para o real, que não é dócil ao significante e que desafiam a
parceria com o analista. A direção do tratamento tem como objetivo a construção
de uma responsabilidade que retifica o lugar do sujeito, assim como regula o
ilimitado do gozo.
Lacan pensa o laço social a partir da
fantasia e do modo de gozo e não apenas pelo caminho da identificação, isso faz
diferença na leitura do sintoma. Indago como o analista pode abrir brecha para
a transferência e para uma abertura para a suposição de saber e a
sinthomatização do real sem sentido.
A minha hipótese a partir da leitura dos
casos apresentados na V Conversação do CLAC, é de afirmar como a presença do
analista pode introduzir um limite que terá a função de fazer valer um “furo” traumático,
ao excessivo do gozo, ou seja, naquilo que reitera nas repetições sintomáticas.
O tempo limitado tem essa direção: situar o corte entre S1 e o objeto a.
Nos
casos apresentados, as intervenções do analista com a sua presença cirúrgica
evidencia mudanças. O Outro da lei simbólica parece precário, não comparece e,
como diz Laurent, os corpos se ocupam deles mesmos através de uma nova maneira
de identificação e de sintoma. A partir desse ponto, penso e proponho que nos
detivéssemos em uma questão que considero fundamental para nossa discussão:
como conceber o sintoma sem a crença no Nome do Pai? Não é fácil pensar a clínica
nessa dimensão – entretanto, me parece ser essa a direção proposta a partir da
nossa prática na atualidade. Com a redução do simbólico temos uma primazia do imaginário e a constatação que o Nome do Pai não orienta mais os discursos do mesmo modo que antes.
Importante retomar o instante de ver que Lacan (1958/1998) situou a retificação subjetiva, como inversão na posição do sujeito enquanto vítima, objeto de determinada desordem, para o sujeito complacente com ela, o que de certa forma traz alívio, já que, implicado no problema do qual se queixa, pode fazer algo para mudar.
Importante retomar o instante de ver que Lacan (1958/1998) situou a retificação subjetiva, como inversão na posição do sujeito enquanto vítima, objeto de determinada desordem, para o sujeito complacente com ela, o que de certa forma traz alívio, já que, implicado no problema do qual se queixa, pode fazer algo para mudar.
Assim temos como referência um gozo sem
sentido, cuja operação simbólica é frágil, o analista, com sua presença pode
possibilitar a construção de uma invenção para o traumático, para aquilo que
não faz relação sexual, e que ao inscrever uma perda, faz corte ao excessivo do
gozo. Consequentemente uma nova leitura do sintoma. Um corte no deciframento
infinito da cadeia significante e no interminável de uma análise. O analista na
análise de tempo limitado é um parceiro indispensável e possível que segue da
alienação para a separação – o manejo da transferência possibilita a
atualização do inconsciente tão deixado em suspenso na nossa época, através da
sua presença entre corte e costura. A construção da fantasia, não se
interpreta, nem se decifra, mas pode ser construída. Essa construção, já é um
trabalho de redução que é uma maneira de se pensar a interpretação como corte
que separa e faz um novo enlaçamento com o Outro, que é a direção de toda análise
terminável e interminável.
Os casos apresentados indicam o declínio do
Nome do Pai e suas consequências e de como a intervenção do analista pode fazer
valer o “traumático do Pai” do amor e do desejo e introduzir mudanças que mudam
o modo de viver a pulsão.